quarta-feira, 21 de setembro de 2011

A Flor e o Jardineiro

A primavera não começa no dia 23 de setembro como defendido por astrônomos e pesquisadores. Independentemente do movimento de translação e da inclinação do eixo da Terra em 23°27’ tenho certeza que os cálculos de física e astronomia, ou qualquer análise geográfica e matemática não são conclusivas quanto a essa questão. Tenho argumentos suficientes para afirmar que a primavera começa a zero hora do dia 21 de setembro.
A primavera presenteia a natureza despedindo-se do inverno e trazendo a estação da cor e das flores. A estação, que nos faz esquecer o frio, até mesmo quando moramos em regiões de temperaturas amenas. Estação responsável pelo desabrochar das flores. No dia 21 de setembro de um ano indeterminado nascia a primavera e milhões de anos depois, vinha ao mundo uma flor de rara beleza, como que coroando um aniversário de milênios, que tive a dádiva em tê-la para cultivar em meu jardim.
Uma flor que foi germinada pelo amor de seus pais e foi cultivada em terrenos aprazíveis. E que quando vi me apaixonei por seu perfume e por suas cores vivas: tons de vermelho, verde e azul, associados a luz formando as cores secundárias e complementares, em um mosaico perfeito de combinações de amarelo, rosa e branco, suas misturas, sua variações e degradês. Encantei-me por seu brilho e por sua suavidade. Fui cativado por sua luz e textura.
Estava acostumado com as mesmas flores, mui belas, mas de características parecidas, de um jardim previsível e comum, até observar que a minha flor era ainda mais resplandecente; se destacava com detalhes incomparáveis, a obra ímpar, da qual não conseguia tirar os olhos e me convidava para que fincasse meus pés naquela terra. E cuidar dessa flor é trabalho para jardineiro especializado, para poeta da terra que deve reconhecer a resistência da espécie ao lidar com tempestades e reconhecer também a fragilidade ao ser exposta em demasia ao sol.
Portanto, flor que enfeita minha vida e meu jardim, o que eu te desejo nesse dia de primavera são muitos anos de vida. Desejo que eu tenha as mão sábias do jardineiro que ama o trabalho com a flora e vibra com o nascimento de cada broto. Desejo ser artista do campo que sabe a hora e a medida de regar, que é exímio podador e que é habilidoso no preparo da terra.

Pois Deus proverá a chuva, o sol, o vento e os sais da terra sob medida para que o resto façamos com sabedoria, segundo a sua vontade.

Parabéns meu amor, minha flor, minha vida, minha mulher.
Do seu eterno jardineiro.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Arte do Encontro

Nunca entendi quando ouvia comentários de pessoas que passavam muitas horas na internet. E não estou falando da internet para o trabalho e sim de lazer. Eram amigos ou conhecidos literalmente viciados que por vezes se esqueciam de comer e até reduziam horas de sono para ficarem em  frente a tela. Os meios mais utilizados à época eram os jogos on-line e os aplicativos de pate-papo, como o MIRC e o MSN. Logo depois surgiu o Orkut que foi um fenômeno (principalmente no Brasil) impulsionando as redes sociais e revolucionando a forma com que as pessoas se relacionavam.
Inicialmente avesso a novidade, fui incentivado por amigos de faculdade a criar um login no Orkut. Um mundo de descobertas. Pessoas que não via desde a infância. Colegas de escola, da alfabetização até o ensino médio. Amigos que estavam afastados pela distância entre cidades, estados, países. Ali estavam expostas suas idéias, suas fotografias, suas novidades, suas vidas. E era bom compartilhar , mesmo que de longe e fazer parte também da sua vida, de maneira indireta, mas salutar.
Desconfiado pelas notícias de exposição excessiva daquele sistema, que abria nossa vida para os nossos amigos e inimigos, via que não fazia mais sentido continuar com aquele jogo. Vi relatos de vidas destroçadas por caluniadores, pessoas sendo ameaçadas, pessoas má intencionadas que buscavam refugiar-se dos seus relacionamentos em uma vida digital de farsa: tinha de tudo. Deletei o meu perfil.
Era convidado constantemente para voltar a participar de uma rede social e muitos sistemas surgiram: muitos nomes, siglas, ícones, nada me incentivava em ir adiante. Até que como por acaso (nada é por acaso) encontrei uma amiga minha e percebi amor e acolhimento em seus dígitos. Então pensei que poderia procurar os velhos amigos de tanto tempo que a gente não se dá conta, mas fazem uma falta danada para nós.
Talvez essa seja a função de uma rede social. Muito mais do que afirmarmos nossas convicções ela serve como uma aquarela de nossas vidas, que mostram um resumo do que consideramos bons momentos. Além da alegria de rever boníssimos amigos que não via há muito tempo tive o prazer de ler palavras de profundo afeto dirigidas a mim e que tocaram as minhas lembranças com cada pessoa que tive o prazer de compartilhar a vida. Tive o prazer de saber mais sobre sua vida. Tive o contentamento de alegrar-me com seu sucesso. Muitos são apenas conhecidos, outros são colegas, mas muitos também são amigos em quem podemos confiar, mesmo estando afastados tanto tempo. Só pela alegria em revê-lo, meu amigo, sei que valeu muito a pena te conhecer, mesmo que nós só tenhamos trocado algumas palavras, alguns olhares ou até alguns gestos. O importante é que a arte do encontro e principalmente a do reencontro nunca deixe de existir.

" A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida. "
 Vinícius de Moraes